O debate sobre o projeto de mudanças no licenciamento ambiental acabou sendo ofuscado por um embate direto entre os deputados Célia Xakriabá e Kim Kataguiri durante a madrugada na Câmara dos Deputados. O episódio ocorreu por volta das 2h30, quando a deputada Célia deixou o plenário visivelmente abalada após trocar ofensas com o parlamentar Kim, em um confronto que refletiu não apenas tensões políticas, mas também desrespeito às pautas indígenas. A sessão, marcada por embates intensos, terminou em gritaria e com a intervenção da Polícia Legislativa.
Durante a discussão do licenciamento ambiental, a deputada Célia Xakriabá foi ironizada por utilizar seu cocar tradicional. Kim Kataguiri a comparou a um cosplay de pavão, provocando uma reação imediata da parlamentar mineira, que solicitou direito de resposta. Ao retornar ao microfone, Célia fez um discurso firme em defesa dos povos indígenas e do respeito à sua identidade, o que elevou ainda mais a tensão no plenário. A fala não apenas interrompeu a votação, mas também escancarou o clima de intolerância que permeou toda a sessão.
O conflito entre Célia Xakriabá e Kim Kataguiri foi apenas o ponto alto de uma série de provocações que se arrastavam ao longo da noite. Parlamentares da base ruralista celebravam a aprovação do texto com mudanças no licenciamento ambiental, enquanto deputados da esquerda tentavam argumentar contra os retrocessos previstos na proposta. Kim chegou a afirmar que lideranças indígenas receberam vantagens indevidas para aceitar projetos como a Usina de Belo Monte, acusação que inflamou ainda mais os ânimos no plenário.
A resposta de Célia Xakriabá ao comentário de Kim Kataguiri foi incisiva. Ela criticou o parlamentar, chamando-o de estrangeiro e afirmando que ele desconhecia as realidades brasileiras e indígenas. Em um discurso carregado de emoção, defendeu sua identidade e denunciou o preconceito sofrido dentro da Casa Legislativa. O termo cosplay de pavão, usado por Kim, foi repetido por outros parlamentares, reforçando o tom de deboche e desrespeito presente na sessão.
A sessão, que deveria se concentrar na análise técnica e política do licenciamento ambiental, transformou-se em um palco de insultos e desconsideração com representantes de minorias. Célia Xakriabá continuou sua fala mesmo após o tempo regimental, sendo ignorada pelo presidente da Câmara, Hugo Motta, que preferiu dar sequência à ordem do dia em vez de mediar a situação. A ausência de condução adequada por parte da Mesa Diretora contribuiu para o agravamento do conflito.
A Polícia Legislativa foi acionada, mas mesmo assim o clima permaneceu tenso. Célia Xakriabá aproximou-se de Kim Kataguiri, e os dois discutiram cara a cara. O tumulto chamou a atenção dos presentes, mas não foi o suficiente para o presidente da sessão interromper os trabalhos. Ele apenas solicitou que o próximo deputado utilizasse o microfone, como se nada estivesse acontecendo. A atitude gerou críticas entre parlamentares e assessores que presenciaram a cena.
Após o tumulto, Célia Xakriabá saiu do plenário visivelmente abalada, sendo acompanhada por Zé Vitor, relator do projeto de licenciamento ambiental. Sentada no café do Congresso, recebeu apoio de colegas e assessores. A imagem da deputada emocionada, com o cocar ainda na cabeça, circulou nos corredores e repercutiu nas redes sociais, reforçando o debate sobre o respeito à diversidade e à representação dos povos originários no Parlamento.
O presidente da Câmara, Hugo Motta, afirmou que vai analisar o caso e prometeu adotar medidas caso se comprove desrespeito entre os parlamentares. Até o momento, dois deputados já foram suspensos por comportamento inadequado, o que levanta a possibilidade de novas sanções. O episódio entre Célia Xakriabá e Kim Kataguiri reacende a necessidade de se promover um ambiente de respeito mútuo e equilíbrio institucional, especialmente durante votações relevantes como a do licenciamento ambiental.
A confusão registrada durante a votação do licenciamento ambiental não apenas comprometeu o debate legislativo, mas também expôs o preconceito contra símbolos indígenas e a ausência de sensibilidade de parte dos parlamentares. Célia Xakriabá tornou-se símbolo da resistência ao preconceito dentro da Câmara, enquanto a discussão sobre o licenciamento ambiental foi eclipsada por um episódio de violência verbal e institucional que evidencia a crise de representatividade e respeito no Congresso Nacional.
Autor: Luanve Urimkoilslag